domingo, 30 de janeiro de 2011

Trabalhar com o Dr. House


Durante as ultimas duas semanas passei pela sensação do que seria trabalhar com o Dr. House (ou pelo menos com uma ideia mais realista do mesmo). É impossível alguém entrar numa sala, onde já estão os alunos reunidos à volta duma mesa, pegar num marcador, começar a escrever no quadro sintomas e depois dizer: "Temos uma paciente com pneumonia e duas semanas depois uma falha renal. Dêm-me teorias para relacionar os dois.", sem que nos venha automaticamente à ideia essa personagem.

O homem é temido por todos os alunos de veterinária da Universidade do Tennessee, que dizem não ser incomum este os deixar a chorar nas suas orais... Durante estas duas semanas, no entanto, fiquei convencido que isso é mito, porque o homem até parece ser divertido e ria-se muitas vezes. E quando acertávamos uma pergunta difícil ele congratulava-nos muito, e ele próprio parecia ficar estranhamente feliz com isso. Como isto é um blog de família, não vou transmitir o que parecia acontecer quando tal sucedia, mas digamos apenas que nunca pensei ficar tao feliz por um homem me dar palmadinhas nas costas e dizer "Good job!", depois de se expressar daquela maneira =P.

Por outro lado, quando ele fazia uma pergunta, e ninguém dava uma resposta nos dez segundos seguintes o ambiente ficava um bocado para o pesado. Mesmo quando as perguntas eram coisas complicadíssimas, tipo qual a proteína envolvida no mecanismo de acção do antibiótico X... Ou qual a acção específica de cada uma das interleucinas... Ou ainda qual a acção dos orgafosfatos nos receptores muscarínicos e nicotínicos. E isto não eram perguntas que ele fazia de vez em quando. Isto eram mesmo as perguntas normais do dia-a-dia.

Todos os dias tinhamos uma ou duas "rounds" (as tais reuniões para discutir casos e em que ele nos fazia as perguntas), e se durant uma delas não sabíamos responder a algo eles mandava-nos estudar para a proxima round, e aí tihamos que saber tudo na ponta da língua. Foi muito exigente, porque passávamos 13 horas no hospital e quando chegavamos a casa ainda tinhamos que estudar para o dia seguinte. Nos ultimos dias ia para a cama às 21h ou 22h porque já não aguentava mais :S. Mas a verdade é que aprendi bastante, e sinto que agora estou mais preparado para ser um bom veterinário.

Ah é verdade. Tive também os meus primeiros dois casos. O primeiro foi um caso de oftalmologia, em que praticamente não tive que fazer nada a não ser falar com os donos, porque a equipa de especialistas de oftalmologia tratou do caso :P. O segundo foi uma cólica e, por acaso, foi escolhido para se fazer um vídeo sobre a abordagem a um caso de cólica, para mostrarem aos alunos da universidade. Então lá me filmaram a falar com os donos, a fazer o exame de estado geral e a colocar o tubo naso-gástrico (felizmente correu tudo bem ufff). Outra coisa boa é que também fiz o meu primeiro diagnóstico correcto. Quando o "Dr. House" me perguntou qual os meus possíveis diagnósticos para o caso, eu disse em primeiro lugar IBD (uma doença inflamatória progressiva do tracto intestinal). Quando mais tarde fizemos a necrópsia (sim tivemos que eutanaziar o cavalo porque os donos não podiam pagar a cirurgia necessária :( ), descobrimos que o cavalo tinha linfosarcoma, que é a pior forma de IBD. Para o cavalo foi uma pena, para mim foi uma pequena alegria.

Pronto de momento é só isto. Chegou ao fim o primeiro mês, e amanhã começa a rotação de cirurgia. Vamos ver como será.

5 comentários:

  1. Um mês e tanto... sim senhor... k os próximos ainda sejam melhores.

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  2. muito bem , mas se puderes eplicar a relação pneumonia e falha renal agradecia, tive a pensar e não me surgiu nada olol abraço
    mirandela

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  3. que espetaculo, tas a viver um dos meus sonhos...;P

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  4. Pekenos grupos de bactérias entram na circulação sanguínea e vão-se alojar no coração. Durante uma semana ou semana e meia colonizam o coração e multiplicam-se, provocando uma endocardite. De seguida maiores êmbolos bacterianos soltam-se das valvulas cardíacas e alojam-se na cortical ou medula renal, porque o rim recebe cerca de 20% do débito cardíaco. E assim temos uma infecção bacteriana que provoca falha renal. Ou plo menos foi o que aprendi =P

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  5. O primeiro grupo de bactérias em circulação vêm do pulmão entenda-se.

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